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A Psicologia do Perdão

Psicologia do Perdão

Alexandre Fontoura dos Santos

 

A capacidade de perdoar é característica por excelência do indivíduo psicologicamente saudável. Não se fala aqui daquele perdão que finge atenuar a falta para reforçar a cobrança, ou no ingênuo esquecimento factual da ofensa, mas sim da capacidade de se renovar, mediante o encontro de um novo significado acerca do golpe sofrido. Isto ocorre quando se resolve não mais manter-se preso a uma situação desagradável da vida, portadora de grande dose de sofrimentos.

 

Quantos seres há que passaram por situações tão calamitosas? A ofensa declarada, a traição perpetrada, o abandono que deixa marcas… Aparentemente muitos demonstram segurança, ainda que carreguem por dentro uma série de mágoas devoradoras, que lhes definem os dias. Ainda que em situações externas de estabilidade, estão condenadas emocionalmente para o resto da vida?

 

Eis que surge o exercício psicológico de busca do perdão. Por melhores seres humanos que acreditemos ser, todos temos necessidade de mudança íntima, com a qual se re-edita caracteristicas menos felizes, se dando espaço a uma visão mais clara da vida. Ainda que estejamos com a razão, nos daremos conta que aqueles seres ou ocorrencias que nos mobilizam mágoas podem estar sendo (inconscientemente) representativos dos aspectos difíceis de nossas próprias personalidades, em um mecanismo de projeção. E o ressentimento é uma forma de nos martemos presos a eles.

 

O início do perdão, e sua consagração, movimenta conteúdos inconscientes e amadurecem os aspectos da personalidade. Nele buscamos entender as causas do equívoco, não às justificando, mas garantindo maior dose de compreensao. É um movimento, então, longo, arrojado e de coragem, longe da complascência. Só assim se adquire um novo patamar de entendimento, superando a conflitiva. Também se evita o mecanismo da vingança, pois perpetua a marca psíquica da agressão anterior, em identificação nossa com o agressor, repetindo seu padrão.

 

Aliamos a isso o auto-perdão, emocionalmente reparador. Nele refletimos sobre o equívoco, buscando não o re-viver, aceitando suas responsabilidades, ao buscar a consciência que rompe o ciclo de culpas que nos assombram.

O ciclo da vida, como vigoroso rio, corre então mais confiante, liberto dos personagens depreciativos do passado, que tomaram seus caminhos de forma independente ao nosso.

 

O exercício do perdão, e seus desafios, é pois uma valiosa proposta psicologica de redenção para a vida.

 

 

(Texto publicado no jornal Conceito Saúde. p.20, abril de 2015)

Psicologia do Perdão
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